Prédios verdes conquistam certificações

Ventura Tower - Rio (Tishmann / Método / Camargo Correa)

Os edifícios verdes são as estrelas da construção civil. Consomem menos energia, utilizam recursos naturais renováveis, garantem a qualidade do ar, oferecem conforto ambiental e reduzem os custos operacionais. De quebra, podem conquistar certificações que vão gerar ainda mais negócios. Nessa categoria de edifícios sustentáveis se enquadram o Rochaverá, em São Paulo , e o Ventura , no Rio de Janeiro. "Prédio verde reduz drasticamente a produção de gás carbônico e controla o desperdício, que acaba sempre no fundo dos rios e provoca enchentes", explica Luiz Henrique Ceotto, diretor da Tishman Speyer e responsável pelo processo de certificação do Rochaverá no LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) na categoria gold. O LEED é uma certificação norte-americana (ainda sem correspondente ou adaptação no Brasil) que reconhece os conceitos de funcionalidade da construção sustentável. "É preciso reduzir a quantidade de edifícios gastões", diz Ceotto.

Nessa mesma categoria dos green buildings está incluído ainda o Eldorado Tower, em São Paulo , que também reivindica certificação pelo LEED. Para Luís Fernando Bueno, diretor de engenharia da Gafisa, responsável pela construção do Eldorado Tower, um dos grandes requisitos é que os verdes tenham condições de ser modernos também para as próximas gerações. E mais: que tenham conectibilidade, flexibilidade e estejam aptos a se comunicar com o mundo todo durante as 24 horas do dia. "Tudo isso com baixo custo de utilização e sendo ecologicamente correto", avisa Bueno. Para tanto a instalação de um sistema hidráulico compatível tem um custo de 1,5% a mais na obra.



"Mas produz uma economia de 50% nas torneiras e nos banheiros em relação a um prédio convencional", diz Bueno. É certo que esses produtos custam três a quatro vezes mais que os convencionais - "mas a caixa d´água pode ser menor, porque o prédio vai consumir 50% menos", ressalva.

Verdes têm ainda vidros especiais, com isolamento acústico, e que permitem a passagem de 75% de claridade, o que reduz a quantidade de lâmpadas acesas durante o dia. "Esses vidros custam o dobro em relação aos comuns, mas vão permitir uma economia de 33% na carga térmica".

Pelos cálculos de Bueno, por conta desses vidros, o Eldorado Tower economizou o equivalente a 700 aparelhos de ar condicionado convencionais de janela. Isso representa uma economia de 40% de energia em relação a outros prédios. Cada um dos 18 elevadores do Eldorado Tower, por exemplo, se alimenta da energia do outro. Trata-se de um sistema de regeneração: enquanto um elevador sobe e consome mais energia, o outro está freando; portanto, gastando menos e alimentando o outro com o que armazena.

Isolamento acústico, alta luminosidade, fachadas autolimpantes, menos calor e estação de tratamento de água, além de reuso e reutilização, são itens que muitas empresas estão exigindo quando planejam a mudança de escritório.

"Prédios sustentáveis são muitas vezes condição imposta pelas próprias matrizes dessas empresas", afirma Bueno. Os bancos estão de olho nessas referências, acredita Bueno - principalmente por conta dos valores condominiais. Nesse particular, segundo ele, a economia nos verdes representaria 50% em relação a outros prédios. Pelas contas de Bueno, o valor pago de condomínio num prédio comercial de alto padrão é cerca de R$ 15 por metro quadrado. Nos equivalentes verdes, diz, é de R$ 8 o mesmo metro quadrado.

Para incentivar as construtoras a entrar nessa ciranda dos verdes começou a funcionar em São Paulo , há menos de um ano, o Brazilian Green Building Council. Trata-se de uma organização não-governamental que tem por finalidade a divulgação da cultura da construção sustentável. Os cursos são formatados para atender construtores, incorporadores, fabricantes de materiais, projetistas e administradores prediais. Durante os cursos, eles aprendem que é possível reduzir em 35% as emissões de CO2; e que o reaproveitamento de materiais pode diminuir entre 50% e 90% a produção de resíduos. Os cursos ministrados pelo Green Building são também a ponta de lança para a certificação LEED.

Segundo Nelson Kawakami, diretor executivo da organização, o objetivo é incentivar a construção sustentável. E um dos grandes argumentos é que, em média, o sobrecusto para a certificação fica entre 3% e 7% do valor da obra. "Mas as vantagens econômicas serão bem maiores", garante. "Talvez o prédio não se pague em um ou dois anos, mas se pagará em quatro", afirma ele.

Embora a mudança de cultura seja a parte mais difícil nesse segmento da construção civil, 47 prédios estão no início do processo de certificação. O movimento em direção aos sustentáveis pode ser identificado na atitude de muitos parceiros. Na área acadêmica a iniciativa veio de um grupo de professores que em 2006 deram início ao CBCS (Conselho Brasileiro da Construção Sustentável) como forma de divulgar os conceitos e mobilizar a cadeia produtiva da construção civil. "A edificação pode ser verde, mas a comunidade tem de ser treinada para desfrutar", diz Marcelo Takaoka, presidente do CBCS. "Além de tratar do espaço físico, a construção civil deve estar atenta à legislação trabalhista, ao social e à comunicação", diz ele.

Para Takaoka, o maior problema da construção civil é a fragmentação. "Quando todos os atores adotarem a mesma linguagem e estiverem direcionados para o mesmo objetivo, teremos o jogo do ganha-ganha", diz. Takaoka reconhece que um prédio verde tem aluguel mais alto. "Mas o condomínio é mais baixo, o que faz com que o incorporador saia ganhando; o proprietário terá um conforto ambiental inusitado e a administração predial terá menos rotatividade", diz. "A construtora que não tiver prédios mais eficientes terá rentabilidade menor", observa.

O Banco ABN Amro Real mantém seu programa Obra Sustentável desde 2001 e vincula a concessão de crédito a um questionário em que o tratamento de detritos e a inspeção ambiental são apenas alguns itens. "A sociedade está mais exigente e quer saber como uma construtora trata seus detritos, como se comporta no canteiro de obras e o quanto está atenta ao bem estar dos trabalhadores", diz Felix Cardamone, diretor de crédito imobiliário do Real. Hoje são 13 as empresas que participam do Obra Sustentável. "Acreditamos que esses prédios vendam mais facilmente suas unidades porque os compradores sabem que o patrimônio terá maior valorização no médio e longo prazo". Mas todos saem ganhando, na opinião de Cardamone: "A empresa ganha porque vai fazer mais negócios a partir do empreendimento que deu certo e o banco também ganha porque quando investe nessa filosofia atrai mais clientes."



Fonte:Valor Econômico - 28/2/2008

Comentários

  1. O Rochaverá e o Ventura não sao edificios sustentáveis
    apenas utilizaram investimento nas áreas que são necessárias para conseguirem a certificação LEED
    muitos dos fatores mais fundamenteis nao foram levados em conta
    no Rochaverá as janelas nao podem ser abertas limitando o conforto termico aos aparelhos de ar condicionado
    o projeto conta com mais 1000 vagas para carros o que irá trazer um transito na região sem proporção ainda estimada
    sem duvida pode ser uma proposta mais está longe de ser um edificio sustentável é mais uma jogada de Marketing no mercado imobiliário
    alguns exemplos internacionais podem ser considerados edificios sustentáveis
    na minha opinião um edificio que é refem do ar condicionado nao tem nada de sustentável

    Douglas Rodrigues

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  2. Rigo
    pense em um edificio que tenha conforto aos seus usuários
    ele não precisa de ar condicionado
    me apego a esse fato e faço minha critica ao Rochaverá por achar que existem técnicas construtivas que tornam um edificio + sustentável
    se quiser entrar em contato e discutir o meu ponto de vista estou a disposição
    pesquiso o tema a algum tempo desenvolvo pesquisa na área
    sou aluno do Mackenzie e meu TGI é sobre Edificios Contemporaneos de Baixo Impacto Ambiental
    meu contato
    dougwillian@gmail.com

    Abraço Douglas

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